A maior floresta tropical do mundo
A flora amazônica ainda é praticamente desconhecida, com um fantástico potencial de plantas utilizáveis para o paisagismo, e é constituída principalmente de plantas herbáceas de rara beleza, pertencentes às famílias das Araceæ, Heliconiaceæ, Marantaceæ, Rubiaceæ, entre outras. Essa flora herbácea, alem do aspecto ornamental, seja pela forma ou pelo colorido da inflorescência, desempenha vital função no equilíbrio do ecossistema.
Como exemplo, temos as helicônias,com uma grande variedade de espécies com coloridas inflorescências. São de presença marcante nas nossas matas úmidas e tem uma importante função no equilíbrio ecológico. No continente americano, as helicônias são polinizadas exclusivamente pelos beija-flores que, por sua vez são os maiores controladores biológicos do mosquito palha Phletbotomus, transmissor da leishmânia, muito abundante na Amazônia desmatada. A alimentação dos beija-flores chega a ser de até 80% de néctar das helicônias na época da floração das espécies.
Com poucas espécies herbáceas e a grande maioria com espécies de grande porte, as palmeiras tem uma exuberante presença nas matas ribeirinhas, alagadas e nas serras, formando um destaque especial na paisagem amazônica. Muitas palmeiras amazônicas, como tucumã, inajá, buritirana, pupunha, caioué e outras espécies de classificação desconhecida foram muito pouco ou nada utilizadas para o paisagismo.
Quanto às árvores, o vastíssimo mar verde amazônico tem um número incalculável de espécies. Algumas delas, endêmicas em determinadas regiões da floresta foram ou estão sendo indiscriminadamente destruídas, sem que suas propriedades sejam conhecidas. Dentre as árvores mais conhecidas utilizáveis para o paisagismo, estão o visgueiro, os ingás, a sumauma, muitas espécies de figueiras, os taxizeiros, a moela de mutum, a seringueira e o bálsamo.
Crescendo sob as árvores amazônicas, encontram-se plantas epífitas, como: bromélias, orquídeas, imbés e cactos. Essas plantas são importantes para a fauna que vive exclusivamente nos galhos e copas das árvores. Dentre os animais que se integram na comunidade epífita, temos os macacos, os sagüis. as jaguatiricas, os gatos-do-mato, lagartos, araras, papagaios, tucanos e muitos outros que se especializaram nesse habitat, acima do solo. Com o corte das árvores, as epífitas desaparecem e, com elas, toda a fauna associada.
Muitas dessas plantas epífitas de rara beleza foram muito bem retratadas pela pintora Margaret Mee, durante as várias excursões que realizou na floresta amazônica. Outrora abundantes em determinadas regiões, hoje grande parte dessas plantas se encontra em populações reduzidas.
Certamente a região amazônica tem um gigantesco potencial madeireiro, de plantas utilizáveis para o paisagismo e de espécies vegetais com substâncias para uso medicinal. Mas é necessário que tais recursos sejam mantidos de forma renovável. A floresta amazônica ensina que o extrativismo indiscriminado apenas desertifica, pois ela é mantida pela camada de húmus em um solo fresco, muitas vezes arenoso.
Portanto, é imprescindível utilizar a floresta de uma forma racional. Explorando-a, mas renovando-a com as mesmas espécies nativas; e, principalmente, preservando as regiões de santuários de flora e fauna, que muito valerão, tanto no equilíbrio ecológico, quanto no regime de chuvas e na utilização para o turismo. A Amazônica, com seus 6,5 milhões de Km2 é a maior floresta tropical do mundo. Abrangendo nove países, ocupa quase metade da América do Sul. A maior parte da floresta – 3,5 milhões de Km2 – encontra – se em território brasileiro. Essa área, somada à da Mata Atlântica, representa 1/3 do total ocupado por floresta tropicais no planeta. Além da mata, existem na Amazônia áreas de cerrados e outras formações diversas, perfazendo um total de 5,029 milhões de Km2, conhecido como Amazônia legal. Com relação ao relevo, encontrando ali três formações principais. Ao sul localiza –se o planalto Central, ao norte, o planalto das Guianas e, ao centro, a planície sedimentar Amazônica, todos os com altitudes inferiores a 1500m. Na planície Amazônica destacam –se dois tipos de relevo: as várzeas, que por se estenderem ao longo dos rios estão sempre inundados, e as terras firmes, que cobrem a maior parte da planície e constituem o domínio da grande floresta.
Enorme riqueza sobre solo pobres
O solo amazônico apresenta baixos índices de nutrientes, é ligeiramente ácido e bastante arenoso, características que permitem classificá-lo como extremamente pobre. A presença de grande quantidade de matéria orgânica, carregada desde os Andes pelos rios, faz das várzeas as únicas áreas agricultáveis da Amazônia.
Na verdade, como em toda mata tropical, os nutrientes minerais encontram –se quase totalmente na biomassa vegetal ficando uma pequena quantidade no solo, sobretudo na camada superficial de húmus. A rápida reciclagem desses nutrientes, decompostos pelos microorganismo do solo e reabsorvido pelas árvores, garante o equilíbrio necessário a manutenção da floresta. A única função revelante do solo é a de dar suporte físico à vegetação. De acordo com estudos do projeto Radam – Brasil, apenas pouco mais de 10% da Amazônia possuem solo de fertilidade compatível com a atividades agrícolas.
As águas e o clima: um casamento indissolúvel
O sistema hídrico da região Amazônica é o mais imponente do mundo. O rio Amazonas e seus mais de mil afluente forma uma bacia que comporta 1/5 de toda a água doce em forma líquida do planeta. Nascendo na geleira de Yarupa, no Peru, a uma altitude de 5000m, e possuindo 6500km de extensão, com largura de até 100km, o Amazonas é o maio rio do mundo em volume de água, e o segundo maior
O clima é quente quase o ano inteiro, com uma temperatura média de 25ºC, pouco flutuante ao longo das estações. A região mais úmida do país apresenta uma pluviosidade média de 2000mm ao ano. As chuvas ocorrem no inverno, que dura aproximadamente 150 dias, e caem sob a forma de grandes temporais. O encontro de duas massas de ar, uma vinda do Atlântico norte, e outra, do Atlântico sul, é responsável por essas chuvas, sempre seguidas de céu limpo. Das chuvas que caem na bacia Amazônia, 50% provêm de água evaporada na própria bacia. A chuva resfria o ar acima da copa das árvores e este, ao se com o ar mais quente do interior da mata, provoca a condensação que irá formar novas nuvens. No verão, as nuvens formadas sobre a mata deslocam-se para o sul e são responsáveis pelas chuvas de todo o planalto Central brasileiro.
A incrível diversidade biológica
Calcula-se que dentro da floresta amazônica convivem em harmonia mais de 20% de todas as espécies vivas do planeta, sendo 20 mil de vegetais superiores, 1400 de peixes, 300 de mamíferos e 1300 de pássaros, sem falar das dezenas de milhares de espécies de insetos, outros invertebrados e microorganismos. Para se Ter idéia do que isso significa, existem mais espécies vegetais num hectare de floresta amazônica de que em todo o território europeu. A castanheira é o exemplo mais típico de árvore amazônica, sendo uma das mais imponentes da mata. De toda essa variedade, metade permanece ainda desconhecida da ciência, havendo muitas espécies endêmicas, ou seja, que vivem apenas numa localidade restrita, não ocorrendo em outras regiões.
A vegetação pode ser classificada em: mata de terra firme (sempre seca), mata de várzea (que se alaga na época das chuvas) e mata de igapó (perenemente alagada). Como já dissemos, existem também, em menor quantidade, áreas de cerrado, campos e vegetação litorânea.
O equilíbrio natural da floresta
A Amazônia, como floresta tropical que é, apresenta-se como um ecossistema extremamente complexo e delicado. Sua incrível diversidade biológicas de difícil compreensão. As imensas árvores retiram do solo toda a matéria orgânica nele existente, restando apenas um pouco na fina camada de húmus, onde os decompositores garantem a reciclagem de nutrientes. A retirada desses minerais é tão intensa que alguns rios amazônicos têm suas águas quase destiladas. Ficando praticamente sem matéria orgânica, os peixes e animais aquáticos dependem, para se alimentar, das folhas e dos frutos que caem das árvores. Para que possa ocorrer a reciclagem dos nutrientes, é preciso haver um grande número de espécies de plantas, pois cada uma desempenha uma função no ecossistema. As monoculturas naturalmente comprometem esse mecanismo e, por isso mesmo, não são recomendáveis.
Os animais, que se alimentam das plantas ou de outros animais, também contribuem, com suas fezes, para o retorno da matéria orgânica ao solo. Além disso, eles têm importante participação na polinização das flores e na dispersão dos frutos e das sementes.
As constantes chuvas que caem na Amazônia têm um papel fundamental na manutenção do ecossistema. Muitas vezes as águas nem chegam a atingir o solo, uma vez que ficam retidas nas diversas camadas de vegetação, sendo rapidamente absorvidas ou evaporando-se ao término da chuva. São elas que garantem a exuberância da floresta.
Todos os elementos, clima, solo, fauna e flora, estão tão estreitamente relacionados que não se pode considerar nenhum deles como o principal. Todos contribuem para a manutenção do equilíbrio, e a ausência de qualquer um deles é suficiente para desarranjar o ecossistema.
Retirando-se a vegetação, por exemplo, esta levaria consigo a maior parte dos nutrientes, e o pouco que restasse seria carregado pelas fortes chuvas que passariam a atingir diretamente o solo. Se a existência desse matéria orgânica, a floresta não conseguiria se reconstituir, e a tendência natural seria sua desertificação. Dificilmente, porém, teríamos um deserto total, pois a permanência dos ventos alíseos oriundos do oceano é capaz de garantir a umidade necessária para algumas formas de vegetação. Mas de qualquer maneira o ecossistema estaria destruído. E qual seria a conseqüência disso para o globo?
Durante muito tempo atribuiu-se à Amazônia o papel do “pulmão do mundo”. Hoje sabe-se que a quantidade de oxigênio que a floresta produz durante o dia, pelo processo da fotossíntese, é consumido à noite. No entanto, devido às alterações climáticas que causa no planeta, ela vem sendo chamada de “o condicionador de ar”. O desmatamento da Amazônia pode, aparentemente, causar alterações no clima de todo o planeta, com uma possível elevação da temperatura global pela eliminação da evapotranspiração”. Além disso, o gás carbônico liberado pela queima de suas árvores poderia contribuir para o chamado efeito estufa, novamente aquecendo a atmosfera.
As potencialidade de uso para a humanidade
A importância da Amazônia para a humanidade não reside apenas no papel que desempenha para o equilíbrio ecológico mundial. A região é berço de inúmeras civilizações indígenas e, além disso, constitui-se numa riquíssima fonte de matérias-primas – alimentares, florestais, medicinais, energéticas e minerais.
Fornecimento de alimentos, madeira e produtos medicinais
Se bem utilizadas, as áreas agricultáveis da Amazônia podem fornecer alimentos
A domesticação dos animais amazônicos – como capivara, o jacaré, a tartaruga, o peixe – boi, o mutum e a paca – traz novas alternativas de produção de alimentos. Também a pesca, se realiza com técnicas adequadas, pode ser uma rica e perene fonte de proteínas.
A presença de diversos invertebrados abre a possibilidade de utilização de algumas espécies para o controle biológicos de pragas da agriculturas. Para isso, bastaria identificar os inimigos naturais ou parasitas capazes de controlar as populações de pragas.
Inúmeras são as espécies de plantas com valor medicinal na floresta amazônica, sendo utilizadas 1300 delas. Menos de 5% das espécies foram pesquisadas para a verificação de possíveis usos medicinais, mas substâncias importantes já foram descobertas, como o curare, um potente anestésico, e o quinino, o mais precioso remédio contra a malária.
Dentre as numerosas espécies fornecedoras de madeira, apenas duas, o mogno e a cerejeira, são aproveitadas em larga escala. Possuindo 30 bilhões de m3 de madeira, a floresta apresenta grande quantidade de espécies utilizáveis, mas ainda pouco exploradas.
Uma árvore que merece destaque é a seringueira, típica da amazônica. Do seu látex fabrica-se a borracha, que, apesar dos atuais similares sintéticos, é insubstituível em diversos produtos. O Brasil já foi o maior produtor, mas hoje importa 70% da borracha que consome.
A produção de energia e as jazidas minerais
Algumas plantas são adequadas à produção de energia, tanto pela combustão direta da madeira, quanto pelo fornecimento de óleos vegetais. O óleo de copaíba, por exemplo, vem sendo apontado pelos pesquisadores como o possível substituto do diesel. Do babaçu, por sua vez, pode-se produzir álcool, carvão siderúrgico, óleo vegetal e biogás. Ambas são espécies bastante comuns na Amazônia.
A abundância de minérios na região é incontestável. Se explorados racionalmente, esses produtos podem trazer grande riqueza ao país. Os mais importantes são: o ferro ( 18 bilhões de toneladas, em Carajás), o alumínio (4 bilhões de toneladas, em Trombetas, Paragominas e Almeirim), o manganês (80 bilhões de toneladas em Carajás e Serra do Navio), o cobre (10 milhões de toneladas, em Carajás), o outro (250 toneladas, em Tapajós), o estanho (400 mil toneladas) e o níquel (90 mil toneladas). Em menor quantidade, encontra-se também na Amazônia o diamante (em Roraima), o petróleo (na plataforma oceânica e no continente), o urânio (em Roraima) e o sal-gema.
Os recursos naturais de Amazônia vêm seno explorados inadequadamente desde a chegada dos primeiros colonizadores. Como efeitos do desmatamento, que altera os hábitats naturais, registra-se um declínio drástico da diversidade biológica. Além disso, a exploração dos recursos naturais tem trazido muito pouca riqueza para a região, que ainda vive do extrativismo. Diversas queimadas, sobretudo em Rondônia, são promovidas exclusivamente para garantir a posse da terra. E toda a devastação está ocorrendo num ritmo muito maior que o das pesquisas científicas, o que dificulta a elaboração de propostas alternativas de utilização dos recursos. Mesmo assim, muita coisa pode ser feita, desde que medidas emergenciais sejam tomadas em curto espaço de tempo.
A ocupação humana na Amazônia: dez mil anos de história
Os portugueses começaram a penetrar na Amazônia no século XVII, quando a região, pelo Tratado de Tordesilhas, ainda pertencia à Espanha. A disputa por sua posse prolongou-se até 1750, quando o Tratado de Madri fixou os limites do Brasil a oeste de Tordesilhas. No fim do século XVIII, o governo do Marquês de Pombal declarou-a província independente e inaugurou a Companhia do Grão-Pará e do Maranhão, para desenvolver a região. Na época da independência, a Amazônia ainda não se integrava ao quadro nacional, mantendo muito mais relações com Portugal do que com o resto do país.
Antes da chegada dos europeus, a Amazônia era habitada por mais de 2 milhões de índios que viviam nas várzeas, as matas e nos campos, sempre às margens dos rios ou à beira-mar, sem depredar a natureza. Alguns grupos já estavam em extinção, como os Tupinambá. Outros foram totalmente dizimados pelos brancos, como os Tapajó, os Kaboquena, os Guanavena e os Manaó ( que deram origem ao nome da capital do Amazonas).
A colonização, que transformava os índios em escravos ou trazia doenças antes desconhecidas desses povos, como a gripe, o sarampo, a tuberculose e as doenças venéreas, foi aos poucos dizimando física ou culturalmente as tribos amazônicas. Esse processo acentuou-se durante o ciclo da borracha e a construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Nas últimas décadas, a política desenvolvimentista para a Amazônia, com a abertura de estradas como a Belém-Brasília, tem acelerado o extermínio das tribos, cujas terras são reduzidas por projetos de colonização e criação de gado, empreendimentos agrícolas, e pela mineração e extração de madeiras. Enquanto não se demarcam as reservas indígenas, inúmeras rodovias e hidrelétricas vão sendo construídas em territórios ocupados pelos nativos há milhares de anos. Os conflitos entre colonos e indígenas são uma constante na região.
A crescente destruição da Floresta
Até 1980, apenas 2,47% da floresta havia sofrido alteração. Esse índice subiu para 6,5% em 1987 e para 12% em 1988, conforme relatório do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais) divulgado em maio de 1989. Convém salientar que há uma grande polêmica em torno desses índices, uma vez que são contestados por outras instituições de pesquisa. Para calcular essa área, o INEP utilizou imagens dos satélites NOAA-9 e Landsat – 5, que captam as radiações emitidas por queimadas. Área inclui os cerrados existentes na região.
Um parâmetro fornecido pelo pesquisador Philip M. Fearnside mostra que a devastação cresce em ritmo assustador: é quase um campo de futebol a cada cinco segundos. Essa maior intensidade de remoção da cobertura vegetal está intimamente relacionada á implantação de projetos de colonização e de programas agropecuários, criados pela SUDAM (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia) e aprovados pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A maioria desse projetos propicia a concentração de grandes extensões de terra nas mãos de poucos, gerando graves conflitos, como os que se verificam na região do Bico de Papagaio (sul do Pará e norte de Tocantins), onde posseiros e proprietários lutam pelas mesmas terras, sendo freqüentes mortes em ambos os lados.
Com a descoberta das riquezas minerais, iniciou-se na Amazônia mais um tipo de exploração que agride violentamente o ecossistema local. A mineração é feita a céu aberto, removendo – se grandes áreas florestais. Os danos maiores são causados pelos garimpos de ouro, como o do rio Madeira, que poluem as águas com o mercúrio usado para precipitar as minúsculas pepitas dispersas na água. Além disso, grande quantidade de terra é derrubada dos barrancos, mudando a cor e assoreando os cursos d’água. Acredita –se que mais de 250 toneladas de mercúrio foram despejadas apenas no garimpo de Tapajós e outras 78 toneladas no rio Madeira. Esse mercúrio tem contaminado os peixes que servem de alimento para maioria da população, causando inúmeros problemas de saúde, como deficiências renais e neurológicas.